Um obstáculo é um conjunto de dificuldades de um actante (sujeito ou instituição), ligado à “sua” concepção de uma noção. Esta concepção foi estabelecida por uma atividade e por uma adaptação correta, mas sob condições particulares, que a distorceram ou limitaram seu escopo. As dificuldades criadas por esta concepção estão ligadas por “raciocínios”, mas também pelas muitas circunstâncias em que esta concepção ocorre. Assim, a concepção resiste ao simples aprendizado de um conhecimento mais correto. As dificuldades parecem desaparecer, mas elas reaparecem inesperadamente e causam erros por intermédio de relações insuspeitas. A identificação e a inclusão explícita da rejeição de um obstáculo no novo conhecimento são geralmente uma condição necessária para seu uso correto.
Os obstáculos de origem ontogênica são aqueles que surgem devido às limitações (neurofisiológicas entre outras) do sujeito em um dado momento de seu desenvolvimento: ele ou ela desenvolve conhecimentos apropriados aos seus meios e objetivos naquela idade.
Os obstáculos de origem didática são aqueles que parecem depender apenas de uma escolha ou de um projeto do sistema educacional. Por exemplo, a apresentação atual dos decimais no nível elementar é o resultado de uma longa evolução no âmbito de uma escolha didática feita pelos enciclopedistas e depois pela Convenção: dada sua utilidade, os decimais deveriam ser ensinados a todos o mais cedo possível, associados a um sistema de medição e com referência às técnicas de operação com números inteiros. Assim, hoje, os decimais são, para os estudantes, “inteiros naturais com mudança de unidade”, portanto “naturais” (com uma vírgula) e medidas.
Os obstáculos de origem epistemológica são aqueles que não podem, nem devem, ser evitados, devido ao seu papel constitutivo no conhecimento procurado. Eles podem ser encontrados na história dos próprios conceitos. Isto não significa que seu efeito deva ser amplificado ou que as condições históricas em que foram superadas devam ser reproduzidas no ambiente escolar.
Texto original
Obstacles. Un obstacle est un ensemble de difficultés d’un actant (sujet ou institution), liées à « sa » conception d’une notion. Cette conception a été établie par une activité et par une adaptation correcte, mais dans des conditions particulières, qui l’ont déformée ou qui en ont limité la portée. Les difficultés créées par cette conception sont liées par des « raisonnements » mais aussi par les nombreuses circonstances où cette conception intervient. Ainsi la conception résiste au simple apprentissage d’une connaissance plus correcte. Les difficultés semblent disparaître, mais elles réapparaissent de façon inattendue et causent des erreurs par des relations insoupçonnées. L’identification et l’inclusion explicite du rejet d’un obstacle dans la nouvelle connaissance sont généralement des conditions nécessaires à son usage correct.
Les obstacles d’origine ontogénique sont ceux qui surviennent du fait des limitations (neurophysiologiques entre autres) du sujet à un moment de son développement: il développe des connaissances appropriées à ses moyens et à ses buts à cet âge là.
Les obstacles d’origine didactique sont ceux qui semblent ne dépendre que d’un choix ou d’un projet du système éducatif. Par exemple, la présentation actuelle des décimaux au niveau élémentaire est le résultat d’une longue évolution dans le cadre d’un choix didactique fait par les encyclopédistes puis par la Convention : compte tenu de leur utilité, les décimaux allaient être enseignés à tout le monde le plus tôt possible, associés à un système de mesure, et en se référant aux techniques d’opération dans les entiers. Ainsi, aujourd’hui, les décimaux sont, pour les élèves, “des entiers naturels avec un changement d’unité”, donc des “naturels” (avec une virgule) et des mesures.
Les obstacles d’origine épistémologique sont ceux auxquels on ne peut, ni ne doit échapper, du fait même de leur rôle constitutif dans la connaissance visée. On peut les retrouver dans l’histoire des concepts eux-mêmes. Cela ne veut pas dire qu’on doit amplifier leur effet ni qu’on doit reproduire en milieu scolaire les conditions historiques où on les a vaincus.